Celebrado em 16 de outubro, o Dia Mundial do Pão marca a importância de um alimento que atravessa séculos e fronteiras culturais. Do pão francês do café da manhã ao caseiro artesanal, ele é parte da rotina de milhões de brasileiros. Mas, ao mesmo tempo em que simboliza tradição e afeto, o pão também carrega fama de vilão das dietas. Afinal, ele engorda? Causa inflamação? Deve ser cortado para emagrecer? O médico Danilo Almeida, pós-graduado em Nutrologia pela ABRAN e responsável pela Clínica Versio, explica o que é mito e o que é verdade entre as principais crenças sobre o alimento.
Para começar, o especialista lembra que o pão é basicamente uma combinação de farinha, água, fermento e sal — ingredientes simples, que em si não representam um problema. “O que transforma o pão em uma opção mais ou menos saudável é o grau de processamento e a forma como ele é inserido na rotina alimentar. O vilão não é o pão, é o contexto”, afirma. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), cerca de 47 milhões de pessoas passam por padarias todos os dias no Brasil, e o pão francês continua sendo o campeão de vendas, respondendo por mais de um terço da produção nacional.
Uma das crenças mais comuns é a de que o pão engorda. Para o Dr. Danilo, esse é um dos mitos mais persistentes: “O pão não tem uma característica intrínseca que o torne um alimento engordativo. O que leva ao ganho de peso é o excesso calórico total e a baixa qualidade da dieta. É perfeitamente possível emagrecer comendo pão, desde que ele caiba no plano alimentar e venha acompanhado de proteínas e boas gorduras”. Ele explica que associar o pão a alimentos ricos em proteína e fibra, como ovos, queijo ou abacate, ajuda a reduzir o impacto glicêmico e prolongar a saciedade.
Mas estas não são as únicas dúvidas sobre o pãozinho nosso de cada dia. Na lista a seguir, o Dr. Danilo Almeida comenta outros mitos e verdades sobre o alimento.
1. Pão inflama o corpo
MITO. De acordo com o médico, não há evidências científicas de que isso aconteça em pessoas saudáveis. “A ideia de que o pão, ou o glúten, causa inflamação generalizada é uma simplificação perigosa. O que pode provocar sintomas inflamatórios é a intolerância individual, como a sensibilidade ao glúten ou a disbiose intestinal. Fora desses casos, o pão não inflama — e pode, inclusive, contribuir para uma dieta equilibrada, dependendo da sua composição”, explica.
2. Torrar o pão elimina o glúten
MITO. O médico explica que o glúten é uma proteína do trigo que se mantém estável ao calor, ou seja, não é destruída quando o pão é tostado. “O que muda ao torrar o pão é apenas a textura e, em alguns casos, o índice glicêmico, que tende a cair levemente quando o amido passa a se comportar como amido resistente”, diz o médico. Esse processo, de fato, pode trazer benefícios: o amido resistente funciona como uma fibra, alimentando as bactérias boas do intestino e auxiliando no controle da glicose.
3. Pão de forma é ultraprocessado
VERDADE. O pão de forma industrializado é um ultraprocessado. Segundo o Dr. Danilo, isso não significa que ele seja automaticamente nocivo, mas exige atenção. “O pão de forma costuma conter conservantes, emulsificantes, açúcar e gordura vegetal hidrogenada para aumentar a durabilidade e a textura. Esses aditivos, quando consumidos com frequência, podem prejudicar a microbiota intestinal e aumentar a inflamação sistêmica em pessoas sensíveis. Por isso, o ideal é priorizar versões mais simples, com poucos ingredientes e fermentação natural.” O pão artesanal, com farinha integral e fermentação lenta, tende a ser mais nutritivo e melhor tolerado.
4. A fermentação natural deixa o pão mais saudável
VERDADE. O especialista afirma que ao fermentar lentamente, os microorganismos da massa-mãe pré-digerem parte do glúten e dos açúcares, tornando o pão mais leve e de menor índice glicêmico. “Além de saboroso, esse processo favorece a digestibilidade e pode beneficiar o equilíbrio intestinal. É um tipo de pão que dialoga com o conceito de alimentação funcional”, explica o médico.
5. É ruim comer pão todos os dias
MITO. Quanto à frequência, Dr. Danilo explica que comer pão todos os dias não é, por si só, prejudicial. O problema, segundo o especialista, está na repetição e na falta de variedade alimentar. “Se a base da alimentação for sempre a mesma — pão de manhã, pão à tarde, pão à noite —, há risco de monotonia nutricional. Mas incluir pão diariamente dentro de uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e proteínas, é perfeitamente possível e saudável”, afirma. O segredo, ele reforça, é a diversidade de fontes e o equilíbrio calórico.
6. Comer pão provoca gases e inchaço
PARCIALMENTE VERDADE. Algumas pessoas relatam desconforto, gases e inchaço após o consumo de pão, o que leva à crença de que ele é sempre mal tolerado. “Na maioria das vezes, o desconforto não vem do pão em si, mas de uma microbiota intestinal desequilibrada”, explica o Dr. Danilo. “Pães com fermentação natural e menos aditivos tendem a ser mais bem aceitos. Já versões ultraprocessadas podem agravar sintomas em pessoas predispostas”.
7. Comer pão à noite engorda
MITO. Há também quem evite o pão à noite por medo de engordar. Mas o médico explica que o corpo não “acumula gordura” de forma diferente conforme o horário da refeição. “O metabolismo continua ativo, mesmo à noite. O que importa é o total calórico e o equilíbrio ao longo do dia. O pão noturno só será um problema se estiver associado a exageros”, esclarece o médico.
8. Congelar e reaquecer o pão o torna mais saudável
PARCIALMENTE VERDADE. Isso ocorre porque o processo transforma parte do amido em amido resistente, que age como fibra. “É uma boa estratégia para quem quer controlar o índice glicêmico sem abrir mão do pão”, explica o médico. E complementa: “No fim das contas, o impacto do pão na saúde depende mais da qualidade e da quantidade do que de regras absolutas”.
O pão segue sendo um alimento histórico, acessível e afetivo, que pode e deve ter lugar na mesa — sem culpa e com consciência. “Não há motivo para demonizar o pão”, conclui o Dr. Danilo Almeida. “Ele é fonte de energia, tradição e prazer. O que precisamos é aprender a escolher melhor e respeitar os sinais do corpo”.
