Um levantamento exclusivo realizado pela Aldeias Infantis SOS, organização global que lidera o maior movimento de cuidado do mundo, mostra que, em 2022, as principais causas de acidentes envolvendo crianças e adolescentes no Rio Grande do Sul e que levaram à óbito são sufocação (36%) e sinistros de trânsito (34%), que são os acidentes de trânsito. O estudo também avalia os acidentes que ocorrem com este público e levam à internação. As principais causas, em 2023, são quedas (50%) e queimaduras (25%). Os dados levam em conta situações não intencionais, onde não há violência.
O estudo, elaborado com dados do DataSUS, é desenvolvido pelo Instituto Bem Cuidar,
Programa de gestão de conhecimento da Aldeias Infantis SOS. São analisados registros de acidentes entre as faixas etárias de 0 a 14 anos. “O estudo leva em conta os registros que temos de internações e óbitos, portanto, os dados podem ser ainda maiores já que muitas vezes esse tipo de situação ocorre e o atendimento é ambulatorial”, explica Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS.
O total de óbitos em 2022 em razão de acidentes entre crianças e adolescentes no estado foi de 129. Já as internações, que se referem à 2023, registram 5.264 ocorrências. Segundo a Aldeias Infantis SOS, cerca de 90% dos acidentes poderiam ser evitados por meio de ações simples de prevenção e cuidado qualificado. No caso dos sufocamentos, por exemplo, muitas pessoas tendem a relacionar essa causa de acidente à cama compartilhada, mas a maioria dos registros ocorre durante a alimentação:
“As crianças não devem comer vendo telas, já que isso as impede de ver qual alimento estão ingerindo e aprender a mastigar corretamente. Além disso, os pais devem evitar alimentar a criança enquanto ela caminha ou enquanto estão em carros em movimento. Em uma situação de engasgo, é muito mais difícil prestar o socorro”, explica.
Alerta para festas de final de ano e férias
O período das férias escolares acende um alerta para situações de risco, já que as crianças e adolescentes estão mais tempo em casa e, muitas vezes, sem supervisão. Além disso, as viagens para lugares que não estão preparados para receber este público também exigem atenção dos responsáveis. “Nosso intuito com estes alertas é orientar as famílias para que adaptem o que for possível nos espaços, evitando acidentes entre os menores, e que orientem as crianças maiores e jovens”, explica Erika. Ela acrescenta que durante as festas de final de ano, a presença de crianças na cozinha, expostas aos riscos de cortes ou queimaduras, deve ser evitada.
“Nós não queremos excluir as crianças e jovens das tradições familiares, pois sabemos que isso é importante para manutenção da cultura familiar sobre estas datas. Por isso, nossa orientação é sempre adaptar o espaço para que a presença deles seja de forma segura”, explica.
Orientações
Dicas em hotéis, pousadas e parques temáticos:
- Verificar as trancas das janelas e sacadas.
- Na ausência de protetores específicos, tampar as tomadas com fitas isolantes.
- Orientar as crianças sobre a presença dos ralos sugadores nas piscinas, sobre as placas indicativas para risco em águas abertas e profundidade dos espaços para banho e nado.
- Usar sempre coletes salva-vidas.
- Crianças pequenas devem estar sempre acompanhadas de um adulto em piscinas ou banhos de rio ou mar.
- Avaliar e respeitar a classificação etária nos brinquedos em parques temáticos.
Dicas para as celebrações de final de ano:
- Evitar a presença de crianças sem monitoramento adequado na cozinha.
- Ficar atento às toalhas de mesa, que pode ser puxadas causando queda de alimentos sobre as crianças.
- No caso de crianças abaixo de 4 anos, avaliar a escolha de enfeites para árvore de Natal (evitar itens cortantes e peças pequenas).
- Ao presentear as crianças, sempre verificar a classificação indicativas dos presentes.
- Evitar comprar presentes do mercado paralelo, pois estes não passam por inspeções do Inmetro.
- A presença de crianças e jovens em locais onde tenham acesso a fogos de artifício, deve ser evitada pelo risco de queimaduras.
Dicas e cuidados em casa:
- Usar tapetes anti-derrapantes.
- Usar telas nas janelas.
- Evitar lavar o piso da casa enquanto as crianças circulam descalças.
- Não cozinhar com crianças no colo.
- Evitar o acesso de crianças sozinhas à cozinha.
“Temos que mudar esse paradigma da infância de ‘sobrevivência’, para uma infância cuidada. Com frequência ouvimos pessoas dizendo que passaram por determinadas situações, mas sobreviveram. Outras brincam que vamos enrolar as crianças em plástico bolha, que isso tudo é excesso de zelo. Pelo contrário, defendemos que as crianças possam brincar, vão aos espaços públicos, que se desenvolvam, mas que isso ocorra de forma segura”, explica Erika.
Acidentes no Brasil
Em 2023, os acidentes envolvendo crianças e adolescentes no Brasil cresceram
quase 8% na comparação com o ano anterior, sendo o maior número desde 2019, período pré-pandemia. No total, foram registradas 119.245 internações causadas por lesões não intencionais, entre as faixas etárias de 0 a 14 anos, contra 109.988 registros no ano passado. Entre as causas analisadas para os acidentes estão sufocação (+11,24%), quedas (+ 10,33%), queimadura (+ 7,38%) e afogamento (+ 5,78%). Segundo cálculos da Organização, a cada hora, cerca de 13 crianças são internadas por lesões não intencionais.
